DIVERSIDADE: CONSTELAÇÃO E HOMOAFETIVIDADE

Escrito por Ana Lucia Braga

Qui, 19 de Março de 2015 21:34h.

 

Diversidade

Esse é um tema bastante presente na atualidade. Entendemos por diversidade tudo aquilo que envolve o diferente. Do mais simples, como um livro do outro, ao mais complexo: sexo, raça, religião, cultura, tipos de família, por exemplo. Ela implica, também, os conceitos de pluralidade e multiplicidade. Respeitar a pluralidade é o grande desafio desses novos tempos.

O que nos interessa, hoje, é aquilo que diz respeito à sexualidade.

Como terapeuta de Constelações Familiares, tenho recebido, no consultório, muitos casos que envolvem conflitos familiares entre pais e filhos, incompreensão e intolerância em relação à sexualidade do filho. Casos de pânico e depressões relacionados, inclusive, a essa questão. A diversidade é boa quando não nos atinge, quando está no quintal do outro...

Também adolescentes e jovens confusos com relação a esse tema, além de pessoas homofóbicas e não homofóbicas que fazem uma crítica à mídia que, parece, tem posto o assunto na berlinda de modo “festivo” em demasia. A homoafetividade tem sido tratada do mesmo modo como a violência. A sensação, ao assistir televisão, abrir os noticiários na internet ou na mídia impressa é que se confunde e “propagandeia” de forma não saudável, até irresponsável. É como se a mídia estivesse aqui, prestando grande serviço à própria violência, auxiliando no “recrutamento”, naquilo que não é necessário. Vivemos quase um “modismo”, uma “tendência” imposta.

Tudo a favor da informação?

Na homoafetividade a pessoa apenas se sente atraída por outro ser humano do mesmo sexo, o que, inclusive, não tem a ver com uma escolha pessoal. Dizemos hoje que é uma orientação sexual, e, se há o real propósito de ajudar, de trazer o tema para a família e a sociedade discutirem, não é necessária a utilização de tantos estereótipos, de tantos apelos.

Freud, o pai da psicanálise, em 1935, respondendo a carta de uma mãe, disse: “Não tenho dúvidas que a homossexualidade não representa uma vantagem; no entanto, também não existem motivos para se envergonhar dela, já que isso não supõe vício nem degradação alguma. Não pode ser qualificada como uma doença e nós a consideramos como uma variante da função sexual (...)”. “Muitos homens de grande respeito da Antiguidade e Atualidade foram homossexuais (...).

E finaliza dizendo que se o filho da mulher estivesse “experimentando descontentamento por causa de milhares de conflitos e inibição em relação à sua vida social, a análise poderá lhe proporcionar tranquilidade, paz psíquica e plena eficiência(...)”. Sigmund Freud. (Na atualidade e, a palavra “análise” pode ser substituída por “terapia”).

Para as Constelações Familiares, lidar com a diversidade é parte da vida e de todos os sofrimentos que dela advém. Somos parte de um sistema e esse, por sua vez, também é parte de um sistema maior. Tanto a diversidade como a unidade integram esse sistema maior, na verdade, do todo, portanto, de uma consciência espiritual, que abarca todos os seres humanos do planeta.

Olhamos para a diversidade sexual como um destino sistêmico. Os destinos sistêmicos têm a ver com algumas dinâmicas presentes em cada sistema, com o que ocorre na família transgeracionalmente. Uma das dinâmicas envolvidas nesse destino, segundo Bert Hellinger, tem a ver com a identificação inconsciente com uma pessoa do sexo oposto ao seu de uma geração anterior. Outra dinâmica se refere à identificação com alguém que foi excluído ou difamado na família. Outra, ainda, diz respeito à criança não poder ter acesso a um de seus pais, numa tentativa (vã) de ser ou ter esse pai ou essa mãe não presente, o que afetará suas relações amorosas futuras.

Perguntamos, então: Onde está o sofrimento? A confusão?

E, sabemos, não estão apenas na diversidade sexual, mas nos padrões de relacionamentos estabelecidos, que se repetem e que estão ligados a identificações, a heranças sistêmicas ocultas, transgeracionais.

Para nós, consteladores sistêmicos, as pessoas têm o direito de viver sua sexualidade. E, quando, de algum modo, isso é tolhido, significa que alguém sente que é melhor.

Hellinger diz que “as pessoas devem ter o direito de viver sua sexualidade juntos. Quando o direito de um grupo é negado por outro, quem nega afirma “somos melhores” e este movimento gera resistências e conflitos.

Portanto, se vivemos em uma sociedade onde o tema diversidade está em alta, devemos observar nossa postura, e respeitar. Sem alardes exagerados, nem preconceitos. Apenas respeitar.

Atualmente, há uma discussão em pauta sobre o conceito de família, que exclui drasticamente a homoafetividade. Na legislação brasileira podemos olhar o Projeto de Lei 6583/2013 , Estatuto da Família, onde se pode ler que família, a “única célula-chave da sociedade, é a união entre um homem e uma mulher”. Segundo pesquisa feita pela Câmara dos Deputados (enquete online), desde fevereiro do ano passado, há um empate técnico com relação à definição de família ofertada pelo Estatuto da Família. E quase cinco milhões de pessoas se posicionaram a respeito.

Quando se usa a expressão “entre um homem e uma mulher”, percebe-se clara restrição quanto ao conceito de "família". Hoje, sabemos da quantidade de casais homoafetivos que têm ou adotam filhos.

O Projeto de Lei, aprovado pela Câmara dos Deputados, mas não aprovado pelo Senado no final de 2014, preconiza que esse tipo de família não é família. Família é aquela constituída por casais heterossexuais ou um dos pais com seus filhos. Nossa Constituição também diz coisas complicadas a esse respeito (Art. 226 § 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento). Contudo, apesar disso, a partir de 2011, muitos homoafetivos passaram a assumir o casamento legal, com o reconhecimento da união estável de pessoas do mesmo sexo pelo Supremo Tribunal Federal, usando a própria Constituição, que diz "promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação".

E Como tema em pauta no mundo, no final de Janeiro o Chile reconheceu a união civil de homoafetivos.

Segundo as Constelações Familiares, todos os relacionamentos se desenvolvem e se mantém de acordo com as Ordens do Amor. Essas dizem respeito à vinculação, ao pertencimento a um sistema. Falamos das leis que atuam em todos os sistemas, que são Hierarquia, Pertinência e Equilíbrio, que afetam as relações de modo inconsciente, que levam, inclusive, a repetição de sofrimentos, de padrões familiares.

Neste sentido, as questões que envolvem a diversidade e o sofrimento que dela advém, para nós, podem estar relacionadas ao que chamamos de emaranhamentos sistêmicos, que significa que, inconscientemente, nos ligamos àquilo que não está em ordem em nossa família. Levamos em conta o sofrimento nas relações, os sofrimentos familiares, não a orientação sexual.

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Ana Lucia Braga

Consteladora Sistêmica

Coordenadora Espaço Terapêutico Isis
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