CONSTELAÇÃO FAMILIAR E PSICOPEDAGOGIA

Escrito por Ana Lucia Braga

Sáb, 22 de Agosto de 2009 16:09h.

 

Como psicopedagoga recebo crianças com queixas de dificuldades de aprendizagem, estas crianças muitas vezes surpreendem a terapeuta pelo nível de inteligência que apresentam. Em muitas avaliações percebe-se a dificuldade de se dar um diagnóstico, tamanha a complexidade dos casos. Dislexia? Dislexia de desenvolvimento? Disgrafia? Hipercinesia? TDAH?

Dificuldades ou transtornos neurológicos? Transtornos psiquiátricos? Dificuldades emocionais?

Dificuldades familiares? Dificuldades de “ensinagem”? São, de fato, muitas possibilidades e nos deparamos ainda, inúmeras vezes com a multiplicidade de aspectos, sintonizados em uma só dificuldade: o sofrimento da criança. Estas dificuldades passam por diversas hipóteses, dependendo da visão de mundo, de homem, de educação, de ensino, de aprendizagem, do profissional que recebe esta criança, seja ele da área médica ou terapêutica. As dificuldades de aprendizagem passam por diferentes definições, dependendo da visão do profissional, desde as que privilegiam a origem biológica, ou a origem emocional, até àquelas que veem a família como a produtora do sintoma. Neste sentido, para mim, foi necessária uma ampliação da visão de mundo, de educação, das dificuldades de aprendizagem e especialmente da visão de família. E esta ampliação deu-se a partir da perspectiva sistêmica fenomenológica, com a terapia familiar sistêmica de diversos autores, e especialmente com o trabalho de Bert Hellinger, que iniciou e difundiu pelo mundo as constelações familiares.

Esta abordagem potencializa o psicopedagogo a expandir também seu olhar sobre o sistema escolar, visando, além da escola, outros sistemas que com ela se relacionam, olhando não só para os problemas de aprendizagem, de disciplina, mas também para a interação da administração escolar e das dificuldades dos professores com o que acontece com o aluno; da interconectividade da escola com o sistema educacional e a sociedade.

Nesta visão, torna-se importante olhar para o fenômeno como aquilo que se manifesta no momento da constelação, sem tentar explicar previamente o que acontece, ou partir de pressupostos, de crenças ou preconceitos, ou mesmo de um referencial teórico dado.

A Constelação Familiar tem sido uma forma de intervenção utilizada com pacientes com dificuldades de aprendizagem, que tem demonstrado grande eficácia, enquanto coadjuvante nos tratamentos onde também são levados em conta os aspectos psicológicos e os pedagógicos.

Um caso: Criança com 9 anos, dificuldades de aprendizagem na escrita, leitura, interpretação, matemática, funcionando no quarto ano como criança de primeiro, parcialmente alfabetizada.

Seus pais são separados, tendo a criança pouco contato com o pai. Na constelação da criança foram constelados o pai, a mãe e a criança. Posteriormente foi incluída ainda a avó materna. A constelação apontou para uma grande dificuldade entre a mãe e a avó, assim como para um distanciamento entre a mãe e o pai da criança. O pai olhava para o filho com um olhar amoroso, porém o filho o olhava com cobrança e arrogância. A mãe se interpunha entre os dois. A mãe também repetia as atitudes de sua própria mãe em relação ao seu pai.

Segundo Hellinger, o modo como tomamos nossos pais é o modo como tomamos a vida. Se temos uma resistência contra nossos pais, temos uma resistência contra a vida. E para toda criança, a vida passa também pela escola.

 

Em muitas constelações observamos situações não resolvidas durante a dinâmica realizada.

Inúmeras vezes termina-se a intervenção sem solucionar o problema colocado. Isso, na verdade, não faz diferença, pois o movimento posterior na família e na vida do “constelado”, não é possível de ser controlado, com ou sem final feliz na constelação. A imagem final da constelação da criança foi negativa, permanecendo a criança dividida entre o pai e a mãe, mas aproximando-se um pouco mais do pai, mesmo com a contrariedade da mãe.

Apesar disto, após a constelação, a criança mostrou melhoras significativas, em todos os campos da vida, em especial um grande progresso na escola. A escola não “reclama” mais, a criança passou a aprender, a dominar os conteúdos propostos sem dificuldades. A criança, no inicio, dizia o tempo todo “não sei”, “não consigo”. Atualmente conversa com grande desenvoltura, utilizando raramente estas expressões. Responde a tudo, pensa, se organiza de outros modos em relação ao pensamento e às exigências da escola e da vida. O mais impressionante em relação a esta criança é o modo como tem lidado com as pessoas. Está segura de si, segura de suas possibilidades para se relacionar.

Para fechar este artigo, transcrevo aqui o depoimento da própria criança:

“Eu melhorei. Com a família eu brigava muito. Ainda brigo, mas não brigo tanto. (...) Hoje com a mãe brigo mais ou menos. Ela está mais feliz comigo. Na escola eu brigava demais, conversava demais. Não conseguia escrever, tinha dificuldades com português, inglês, matemática, brigava com uns colegas. Hoje brigo e converso mais ou menos e está mais fácil para aprender as coisas. Está mais fácil para aprender geografia, história e ciências”.

 

Publicado no tablóide "O Aprendiz", de Ribeirão Preto - SP, em junho de 2009.

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Ana Lucia Braga

Consteladora Sistêmica

Coordenadora Espaço Terapêutico Isis
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