QUEM SÃO "OS GRANDES": PAIS OU FILHOS?

Escrito por Ana Lucia Braga

Seg, 15 de Junho de 2009 20:35h.

 

Esta é uma dúvida que chega a se transformar em confusão em inúmeras famílias. E tanto faz se os filhos são crianças, adolescentes ou adultos.

Estar fora de seu lugar na família tem a ver com emaranhamentos sistêmicos. Isso pode favorecer tanto a algo de grave ocorrido na família de origem dos pais como na família atual.

Este tipo de implicação sistêmica manifesta-se desde a tenra infância (dos pais e posteriormente dos filhos desses pais).

Falarei sobre algo muito comum nas famílias, que começa como uma necessidade dos pais e gradativamente transforma-se em problema da criança: olhamos para crianças que dormem no quarto dos pais ou mesmo entre os pais, na mesma cama. Quando a criança é bebê, há muitas claras justificativas para esta atitude, que vão desde não ter outro quarto na casa até o fato da criança chorar muito a noite e os pais não suportarem terem que levantar para atender o bebê no quarto dele, ou sentirem dó e medo de o deixarem sozinho. No entanto, as perguntas mais elementares a fazer a esses pais são: como andam os humores dos pais? Como está a relação do casal? Como está o sexo entre eles?

A partir do momento que o filho favorece a permanência dos pais juntos, sem que eles próprios olhem para suas questões, para seus problemas, para sua relação, o filho passa a carregar algo com eles ou por eles.

O filho cresce um pouco e se transforma em problema o fato dele ter se acostumado a dormir com os pais. Aí vem outras justificativas, como o medo da criança, por exemplo. Como passá-la para outro quarto?

Posteriormente, quando o filho cresce um pouco mais, o sofrimento já está instalado e em geral se generaliza: o filho sente medo não só de dormir sozinho, mas de ficar sozinho em outros momentos e lugares; fica tímido demais ou agressivo demais; exigente e mandão. Já não é possível saber quem é o grande e quem é o pequeno na relação entre pais e filhos. E, por razões diversas, os pais muitas vezes cedem aos pedidos e exigências dos filhos. Alguns dizem: “mas, na escola, o que ele vai sentir se eu não der isso para ele? Se os amiguinhos têm, como ele não vai ter?” Neste momento a inversão de papéis está mais forte na família. No início, é até ”bonitinho” ver o filho exigir. Diz-se por aí: “ele é tão pequeno e já tem personalidade forte, já sabe o que quer”... Que pena, digo eu, pois quando crescer um pouco mais, esta criança se transformará em um algoz para os pais. Além dos sentimentos de culpa, de insegurança, de raiva, de incompetência em relação ao filho, os pais se sentem pequenos. Muitos desses filhos envolvem-se com a droga, a promiscuidade sexual, a desorientação em relação à vida escolar.

E todos se deparam com uma enxurrada de críticas e julgamentos em relação aos pais: claro, os filhos sabem muito mais que esses pequenos pais...

A Hierarquia é uma Força, uma lei que atua em todos os sistemas familiares. E ela é clara: os pais vêm primeiro, os filhos depois. Pais são grandes e filhos são pequenos, sempre e independente do que tenha acontecido com esses pais, se são presentes ou ausentes, vivos ou mortos. Se isso é respeitado, especialmente pelos pais, o sofrimento certamente passará distante desta família.

 

Publicado no Jornal "O APRENDIZ", em 2009.

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Ana Lucia Braga

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