PEDAGOGIA SISTÊMICA

Escrito por Ana Lucia Braga

Sáb, 22 de Agosto de 2009 16:17h.

 

A Pedagogia Sistêmica é uma proposta nova e revolucionária para esta área que está tão desgastada, onde encontramos tantos problemas e transtornos, tantas decepções e desânimos em relação aos alunos, aos processos de ensino e aprendizagem, aos professores, aos gestores e aos pais. É uma abordagem que se baseia no método sistêmico-fenomenológico, que olha particularmente para cada evento dentro de um sistema, como se fosse único, com enfoque nas percepções, permitindo uma visão clara e objetiva dos emaranhados dentro da escola e da educação de um modo geral. No campo sistêmico é possível verificar as origens dos conflitos e experienciar novas soluções, possibilitando uma melhor dinâmica de funcionamento para a instituição escolar e todos os envolvidos nela.

Este trabalho ganha grande importância com a professora alemã Marianne Franke-Gricksch, que experimenta em sua classe, com alunos adolescentes, os movimentos sistêmicos do filósofo e terapeuta alemão Bert Hellinger. A experiência de Marianne pode ser conhecida através da leitura de seu livro “Você é um de nós – percepções e soluções sistêmicas para professores, pais e alunos”, publicado em 2005 pela editora Atman.

Esta abordagem partiu da integração da terapia familiar com as Constelações Familiares de Hellinger. Aqui, os problemas educacionais tanto em nível macro como micro, os intra escolares e os extra escolares estão interligados a outros tipos de problemas, a outros elementos do sistema, até a outros sistemas. São elementos que se interconectam, interrelacionam, não sendo possível a solução sem se olhar para esta interconectividade.

Ao olhamos para problemas de sala de aula como disciplina, violência, dificuldades e transtornos de aprendizagem, é impossível não olharmos o sistema familiar do aluno; se desejamos solucionar problemas relacionados aos professores, além de seu sistema familiar – que muitas vezes será necessário ser configurado -, necessitamos olhar para as dinâmicas presentes nas relações entre os profissionais e a hierarquia da escola – coordenação, direção, como também relacionarmos a outros sistemas maiores, como a secretaria de educação, ou outros níveis mais elevados no ensino.

De um modo geral, a Pedagogia Sistêmica segue as “Ordens do Amor”, movimento inconsciente que fazemos em direção à manutenção do equilíbrio sistêmico, que se inicia em nossa família de origem. A criança, pelo amor cego, pelo pensamento mágico, tenta “arrumar” algo que ficou fora de ordem em seu sistema familiar, emaranhando-se com fatos acontecidos e, muitas vezes, repetindo-os, como padrões dentro da família. Relacionando à aprendizagem, por exemplo, ou a outros comportamentos disfuncionais na escola e na vida, o aluno, através do não aprender ou da indisciplina, pode estar demonstrando seu amor, lealdade e fidelidade sistêmica em relação a sua família, o que é completamente desconhecido por ele.

Muitas vezes observamos crianças que são excluídas, que fracassam na escola repetindo apenas alguns padrões ocorridos em seu sistema de origem. Fazem como seus pais, irmãos, tios, avós.

Para Bert Hellinger o fluxo amoroso dentro de qualquer sistema é assegurado pelo seguimento às Ordens, como a Hierarquia, o Equilíbrio de trocas e a Pertinência. Pensar em hierarquia, significa afirmar que cada um tem seu lugar dentro do sistema. Se há inversões de papéis, ou pessoas ocupando lugares que não são os seus, há sofrimentos. Quanto ao equilíbrio, é necessário olhar para as vantagens e desvantagens em relação ao ocorrido. Quando há pendências, há necessidade de compensação. E, muitas vezes, quem vem depois, acaba assumindo inconscientemente a responsabilidade de pagar dívidas do passado, mesmo em sistemas pedagógicos. Quanto à pertinência, ninguém pode ficar de fora. Os excluídos acabam sendo representados posteriormente. E, tratando-se de pedagogia sistêmica, todos os envolvidos devem ser olhados, desde a instituição educacional no que diz respeito à sala de aula, aos alunos, professores, outros funcionários e gestores, passando pelas condições de ensino, objetivos e currículos educacionais, até a família dos alunos, a comunidade e movimentos sociais maiores.

Marianne trabalhou com a imaginação das crianças, com movimentos sistêmicos, com a consciência desta lealdade encontrada nos atos difíceis e que traziam sofrimentos para as crianças. O amor pela família foi olhado por ela e seus alunos como algo que estava além do conhecido por eles. E em seguida veio o trabalho com o respeito, que se mostrou em posturas e transformações por parte do grupo.

O procedimento de base na Pedagogia Sistêmica é o mesmo das constelações sistêmicas. Ou seja, o trabalho geralmente se dá em grupos, onde há a configuração pelo grupo, com representantes, do sistema a ser trabalhado com foco em um problema. O coordenador e o grupo disponibilizam suas percepções para "ver" o que acontece na dinâmica do sistema. A representação é parte do fenômeno que ocorre neste tipo de trabalho. Esta ocorre não em nível psíquico.

A percepção dos representantes, utilizando a mente expandida, é a mesma que o coordenador utiliza dentro deste campo energético que se abre ao se configurar um sistema, seja ele familiar, empresarial ou pedagógico. É a partir dela que se abre também a possibilidade de movimentos e do restabelecimento da ordem e do equilíbrio, o que significa possivelmente a eliminação do sofrimento em relação ao problema abordado.

Este trabalho seria profundamente possibilitador para os professores, especialmente aqueles que trabalham com escolas que atendem o público de baixa renda, onde os conflitos familiares são gritantes, a indisciplina e a violência tem se mostrado com mais vigor e o desânimo tem sido a nota de fundo deste professor. São dificuldades que se mostram cada vez maiores no sistema de ensino. A Pedagogia Sistêmica, através das constelações e outros movimentos, mostra-se, de fato, como um arrojado instrumento para diagnosticar e apontar soluções desde a sala de aula até o que acontece de maior no sistema educacional.

 

Publicado em “O Aprendiz” em Abril de 2009.

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Ana Lucia Braga

Consteladora Sistêmica

Coordenadora Espaço Terapêutico Isis
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