A FILA DE ANTEPASSADOS

Escrito por Ana Lucia Braga

Qua, 02 de Dezembro de 2009 14:28h. 

 

Nada melhor para bancar a felicidade do que estar em paz com a família. Temos dois tipos de família: a atual e a de origem. Quem passou pela adolescência, se relacionou com outras pessoas (sexualmente), teve filhos (nascidos ou não), já possui uma família atual. Esta pode também ser mista, com filhos de mais de um casamento e filhos de parceiros anteriores e do atual. E todos temos uma família de origem, de onde viemos, que pode também ter agregados como pessoas que levaram desvantagem em relação a fatos ocorridos com membros de nossa família, como por exemplo assassinatos.

Os emaranhamentos sistêmicos são inconscientes e as repetições na vida daquilo que não foi bom na história dos ancestrais é perceptível apenas após tempos de sofrimentos. E o que é pior, há, de fato, muitas tristezas, histórias de abandono, de abusos, de grandes flagelos humanos. Pequenas e grandes tragédias, sempre envolvendo famílias. Portanto, estar em paz com a família não é tão simples assim.

Todos nós temos famílias. E já bem pequenos, ainda criança, queremos mudar destinos, mudar os pais, a realidade de vida dos familiares. Se o tio é alcoólatra, o desejo da criança é que ele mude. Se os pais são separados, tudo o que a criança quer é que eles vivam juntos.

Se o pai está ausente, não importa o motivo, a criança quer que ele esteja presente. Se a mãe é depressiva, ela quer a mãe saudável. Se morre um irmãozinho, ela o quer de volta à vida. E assim segue a criança, no sonho, na fantasia, no pensamento mágico que diz a ela que pode mudar a família, o outro, o mundo.

O problema é que, mesmo após a infância, o ser humano continua acreditando neste tipo de pensamento inocente e milagroso. E por não ver resultados práticos, vêm os julgamentos e as condenações. As críticas aos pais ficam pesadas, as expectativas frustradas geram mais cobranças e mais e mais julgamentos. E em conseqüência, sofrimentos de diversas ordens, inclusive a repetição daquilo que se critica nos pais e outros familiares. Aí já não há mais inocência.

Cito o exemplo da “menina” Mariazinha, que se sentiu negligenciada pela mãe. Quando ainda era pequena, seus pais se separaram. Foi criada pela avó e desenvolveu um forte sentimento de abandono. O pai também era completamente ausente.

A questão central desta história é que nada do que aconteceu com esta família, tinha de fato algo a ver com a criança. Os pais a amavam como filha, ainda que não pudessem dar a ela aquilo que ela esperava. Mas receber apenas o que eles tinham para dar era pouco e ela passou de filha, a cobradora dos pais. Tornou-se exigente, crítica, autoritária. Cresceu. Saudável, até, pois os pais lhe deram o essencial: a vida. E os avós o restante que faltava: comida, cuidados, afeto. Tudo isso não foi suficiente para ela. E, sem se dar conta, a menina escolheu para namorar um rapaz drogado. Enfrentou os avós e os pais por ele. Teve um filho com ele. E hoje, além de uma grave doença física, repete a história dos pais. Como mãe tornou-se completamente ausente, pois trabalha muito e quem cuida de seu filho é um outro homem, seu atual companheiro. O pai de seu filho é também totalmente ausente; vive drogado ou internado em clínicas de recuperação. Ela, no entanto, continua se queixando de seus pais. Verbaliza, sempre que pode, que não os perdoa.

Grande presunção humana!

O que poderia ser saudável para esta “menina”?

Talvez olhar para seus antepassados com gratidão; respeitar aquilo que aconteceu do modo como aconteceu; olhar com benevolência e pedir, sinceramente, para que todos os que vieram antes também olhem para ela e para seu filho com benevolência. Visualizar uma fila de antepassados atrás de si, geração após geração e, com humildade, tentar encostar-se neles.

Quando não se julga, se respeita e se tem gratidão por tudo que se recebeu de lá, há a possibilidade de se entrar em contato com a Força. Pois, independentemente de todas as grandes e pequenas tragédias, todos foram necessários. Todos os que vieram antes deram passagem à vida da pessoa desta Mariazinha, da pessoa que somos hoje.

Esta é uma condição, segundo a visão das Constelações Sistêmicas, para se estar em paz com a família e se bancar a felicidade.

 

Publicado no Jornal "O Aprendiz", em 2009.

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Ana Lucia Braga

Consteladora Sistêmica

Coordenadora Espaço Terapêutico Isis
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