I SIMPÓSIO BRASILEIRO DE CONSTELAÇÕES SISTÊMICAS: CONSTELAÇÕES COM CRIANÇAS

Escrito por Ana Lucia Braga

Dom, 30 de Setembro de 2012 19:54h.

 

TEXTO APRESENTADO NO I SIMPÓSIO BRASILEIRO DE CONSTELAÇÕES SISTÊMICAS

EM 29 DE SETEMBRO DE 2012

 

CONSTELAÇÃO COM CRIANÇAS

 

Introdução

Este texto se propõe a contar um pouco de minha experiência com constelação sistêmica com crianças.

Trabalho com crianças desde minha adolescência. Fui professora em todos os níveis de ensino, tendo iniciado minha vida profissional como professora de educação infantil, numa escola popular experimental em uma favela do Rio de Janeiro, em 1978.

Meu trabalho como psicopedagoga clínica ajudou muito nessa nova interação entre constelação familiar e crianças. Antes mesmo de conhecer o trabalho de Bert Hellinger, já tinha o olhar voltado às questões familiares, relacionando-as às dificuldades de aprendizagem e às inúmeras dificuldades emocionais que apareciam em meu consultório. Os primeiros adultos com quem trabalhei em terapia foram os pais de meus clientes, inclusive em grupos de pais.

Atender grupos de crianças não é fácil. O constelador que se propõe a essa tarefa deve preencher alguns pré-requisitos, como, por exemplo, ser paciente e tolerante, conseguir focar independentemente do nível de ruído no ambiente, além de ter que lidar com a enorme possibilidade de dispersão dos clientes. Deve também conseguir conectar a “leitura do campo”- daquilo que acontece dentro da constelação - com informações mais simbólicas, mais características da linguagem infantil.

O constelador não deve julgar ou sentir dó. Como diz Bert Hellinger, fazem parte da “postura básica do terapeuta sistêmico: sem medo, sem julgamento, sem intenção, sem pena”. Deve ter coragem para mostrar o que o campo realmente pede que seja mostrado. Gunthard Weber nos aponta: “Esse é o melhor sentido do nosso trabalho - a constelação consiste sempre num acontecimento coletivo e criador, e numa constante entrega a um processo que não pode ser determinado de antemão ”. O constelador infantil não deve ter pressa, mas também não pode fazer uma sessão muito longa. As crianças não aguentam muito tempo. Por exemplo, se uma constelação de adultos tem a duração média de 60 a 90 minutos, a infantil não pode passar de 60 minutos.

Grupos infantis

Realizo constelações de crianças tanto em meus Workshops como em grupos semanais, aos quais denomino Grupos de Desenvolvimento Pessoal e Constelação. Nos Workshops, os pais podem constelar pelos filhos, quando esses últimos têm até 14 anos. Os Grupos de Desenvolvimento ocorrem durante 8 semanas, com sessões de duas horas, aproximadamente.

São 8 crianças com mães e pais, quando esses últimos participam. Cada semana é destinada à constelação de uma criança. Nesses grupos também é possível que os pais constelem pela criança, mas é preferível que a criança participe.

Inicio o trabalho com a explicação do que é constelação familiar, mostrando o móbile, o sino do vento, dando outros exemplos de sistema, de conexão, além do coletivo de estrelas e de família, em linguagem simplificada, mais acessível à compreensão da criança. Essas, independentemente de sua idade, fazem algumas perguntas, participam, quando é solicitada sua participação e, outras vezes, entrando nas constelações mesmo quando não são chamadas; ou perguntam, antes, se podem entrar (deitar, sentar, etc., no meio dos outros representantes).

A sessão ocorre do seguinte modo: uma rodada, uma constelação imaginária e uma constelação a cada semana; em algumas sessões realizamos, ainda, pequenos movimentos com todos os participantes. Por exemplo, trabalhamos com desenhos, com lã, com pedras, com colagem. Focamos o medo, entre outros temas, aquilo que o filho carrega pelos pais.

Participam do grupo crianças a partir de 3 anos e meio, adolescentes e seus pais. Tive oportunidade de reunir crianças pequenas e adolescentes de até 18 anos, em um mesmo grupo, de modo harmonioso. Após o contrato, geralmente fazemos uma rodada de nomes, idades e problemas; se quiserem, podem falar além dos problemas, de algo mais.

Em geral, todos ouvem com atenção e perguntam o que não entendem.

A partir da terceira sessão, o grupo parece já ter entendido como se dá o trabalho, sendo possível uma maior concentração por parte das crianças, e um maior interesse também. Querem ouvir histórias, tanto as que o constelador conta quanto as que os outros participantes contam: o que sentem dentro do campo, como representantes dos membros da família dos outros, as “hipóteses” da terapeuta em relação ao que acontece na constelação. E parecem gostar muito da pergunta: Você se sente melhor ou pior? Em geral respondem com propriedade e o mais interessante é que muitas das que estão sentadas, fora da constelação, respondem também.

Como o trabalho é fenomenológico em essência, dificilmente planejo uma sessão. Sinto o campo, sinto o grupo, e só aí é que resolvo que técnica utilizar, que “brincadeira” usar antes ou após a constelação.

De onde vem o emaranhamento: lã, desenhos, pedras nas mãos

Venho utilizando técnicas variadas para explicar as leis sistêmicas, o que é e de onde vem o emaranhamento. Por exemplo, utilizo lãs coloridas para que se diagnostique de que lado da família vem o emaranhamento da questão que se quer trabalhar. Cada criança, após pensar sua questão, recebe dois novelos de lã, um de cada vez. O primeiro refere-se à família do pai, mas não há necessidade de dizer isso, para que não haja influências indesejáveis. A criança vai desenrolando o novelo até onde quiser. Quando resolve parar, ela própria arrebenta a lã (ou recebe ajuda quando não consegue sozinha). Pensando, ainda, na mesma questão, recebe o outro novelo de lã, de outra cor, e desenrola até onde desejar. Após arrebentar a lã do segundo novelo, mede-se o tamanho dos dois. O primeiro é o do pai, o segundo é o da mãe. O que é impressionante é que, muitas vezes, o tamanho das duas lãs é praticamente o mesmo. No entanto, muitas vezes, o tamanho fica bem diferente. A lã mais comprida indica o lado do emaranhamento.

Outra técnica para diagnosticar o lado principal do emaranhamento é estender as duas mãos para frente, colocar uma pedra em cada mão, mais ou menos do mesmo peso (claro) – ou almofadas, e deixar abaixar a mão que pesar mais. A mão direita representa o pai e a mão esquerda, a mãe. Esta técnica foi demonstrada por Sophie Hellinger em um dos seminários de Bert Hellinger no Brasil.

O desenho é uma técnica fenomenal em muitos sentidos, utilizado desde sempre pela humanidade para representar situações, e também pela psicologia, há incontável tempo. Utilizo o desenho às vezes em dois momentos do grupo: para trabalhar a hierarquia e a pertinência.

Após uma constelação interna, com o posicionamento dos pais e filhos, podemos fazer com as crianças e pais a leitura da hierarquia, dos tipos de família presentes. Às vezes nos deparamos com famílias do tipo mosaico ou mistas, ou monoparentais, ou mesmo homo afetivas, além daquelas que chamamos tipo nuclear1. Para a lei da pertinência, utilizo a anamnese ou questionário sistêmico, que é preenchida como ficha de inscrição no momento que a criança ingressa no grupo. Fazemos a leitura do questionário, perguntando sobre aquilo que se reconhece existir em sua família. Depois, falo um pouco sobre a importância dos excluídos na família, após perguntar quem sabe desses excluídos, quem os reconhece.

Demonstramos, através de uma representação, como acontece este amor às vezes secreto pelos excluídos: Em duplas, um representa a si próprio e o outro, um excluído da família. Peço que percebam como se olha para o representante do excluído, como ele olha o cliente. No final da experiência, sugiro que se reverencie e se diga: eu amo você e o seu destino. Por favor, me olhe com carinho, me olhe com bons olhos.

Depois, peço que se desenhe a criança, a família do pai e a família da mãe, e os excluídos de ambas as famílias.

Fazemos sempre a apresentação dos desenhos pelas crianças e a leitura sistêmica dos mesmos.

Pular carniça e os pesos que se carrega pela família

Outra brincadeira utilizada em meus grupos infantis é “pula carniça” (ou “sela”, ou “mula”), como é chamada popularmente, dependendo da região do Brasil. Utilizo esta técnica para mostrar como é fácil pagar os preços, ser leal e fiel a família de origem. E também para mostrar qual lado da família pesa mais, qual é mais “fácil” de se aguentar.

Carniça ou a mula são denominações populares interessantes para o repertório infantil, pois ninguém quer ser esse negócio fedido ou uma mula, que no sentido pejorativo quer dizer burro, sem inteligência. Ninguém, com a consciência individual, de fato, quer se manter no sofrimento, emaranhado. Porém, a consciência sistêmica nos imobiliza, nos aponta, como uma bússola insistente, para o local do sofrimento, para a repetição dos padrões familiares. A postura da brincadeira é a mesma do “pular carniça”. A criança que fica na posição de quatro apoios, no chão é o cliente, a carniça. São escolhidos representantes para o pai (e seus problemas), a mãe (e seus problemas) e os problemas da própria criança. Esses, sem que o cliente saiba, decidem o que vão representar. Deitam nas costas da carniça, permanecendo o tempo que for confortável, suficiente. Depois que todos se deitam nas costas do cliente, o grupinho compartilha.

A partir daí fica bem mais fácil falar sobre emaranhamentos e explicar sobre as consciências, segundo Bert Hellinger.

O tapete colorido e as gerações

No espaço onde realizo os atendimentos, em Sertãozinho cidade próxima a Ribeirão Preto, trabalhamos sobre um tapete colorido de E.V.A. Utilizo o tapete de modo a contar quantas gerações precisam ser representadas, de acordo com os passos que o cliente, bem concentrado, dá para trás, em cada quadrado do tapete. Ele descreve a sensação e eu, como terapeuta, o acompanho na experiência. Essa também é uma forma lúdica de trabalhar com as constelações infantis, explicando que, muitas vezes, nossos problemas estão conectados a situações do passado remoto, chegando a nossos bisavós, quiçá nossos tataravós, sem se fazer importante que os tenhamos conhecido ou não.

O genograma

Esta técnica facilita a compreensão do genograma pelas crianças, que em um outro momento do grupo, também colocamos no papel com uma colagem, com a ajuda dos pais. Bonequinhos já cortados, coloridos, (meninos e meninas de um furador especial de papel) são dados às crianças, que montam sua família de origem em pelo menos três gerações.

O interessante dessa técnica é que, mesmo tendo sido falado pela terapeuta e pelas próprias crianças quem é parte de sua família, muitas vezes várias outras pessoas são representadas. Algumas com nomes conhecidos por elas, outras não. Algumas sequer percebem que colam outros membros, além daqueles conhecidos e planejados por elas.

Uma criança de sete anos, em um grupo, após colar sua família: a mãe, ele, o pai, duas pessoas presas em uma gaiola entre o céu e a terra, fez o céu cheio de figuras masculinas. Em sua colagem a única figura feminina era a da mãe. E, ao ser interpelado sobre aquelas outras lá em cima do papel, respondeu que era o céu, com todas as crianças mortas, com muita naturalidade. Após a colagem, a mãe relatou que as bisavós materna e paterna eram parteiras.

As histórias

Outra técnica que utilizo com as crianças e também com adultos é a das histórias. Algumas vezes, dependendo do que acontece no campo, especialmente quando percebo o campo muito confuso, carregado, com eventos diversos, sugiro que trabalhemos com âncoras de chão, papéis posicionados no chão pelo cliente, numerados de 1 a 3, 1 a 4, de acordo com a necessidade percebida em cada constelação. Após o posicionamento, coloco representantes (crianças ou adultos) sobre cada um dos papéis e peço que, com sua mente expandida, se permita entrar no campo de memória do sistema do cliente e, com sua imaginação, crie uma cena, uma história para o lugar onde está posicionado. Em seguida, a constelação continua, de acordo com as minhas percepções, realizando o necessário para restabelecer o fluxo amoroso dentro do campo trabalhado. A imaginação possibilita a entrada no campo perceptivo. Segundo Milton Erickson, “A mente inconsciente é muito mais sábia do que a mente consciente.” Algumas histórias vêm com um tom de realidade bastante forte. E em muitas situações os representantes trazem emoções também fortes desses lugares.

Em um grupo de adolescentes, trabalhei desta forma com um adolescente de 13 anos, onde seis papéis foram posicionados por ele de modo aleatório pelo chão. Em cada um deles havia uma história diferente, com fortes emoções manifestadas pelos representantes dos “lugares”.

Em um, especialmente, o adolescente representante ficou sem respirar, teve uma crise de tosse e ficou bem assustado com o modo como foi tomado pelo campo. A história era sobre um homem que havia morrido afogado e não conseguia respirar. O representante dizia conseguir visualizar o afogamento e depois o barco vazio. Mas tinha a sensação de que ali, o homem tinha sido empurrado do barco (houvera um assassinato). A mãe do cliente, após a constelação, relatou que este, quando tinha 6 anos, havia tido alguns episódios de graves doenças pulmonares, correndo risco de morte. E que ele não aprendera a nadar, pois tinha pavor de água. Em outras ocasiões, pude vivenciar com as crianças, em um grupo onde todos os clientes eram do sexo masculino, crianças de 4 a 8 anos, histórias trazidas em linguagem mais simbólica, como por exemplo, uma disputa entre Corinthians e Palmeiras, e depois do jogo houve muita briga, porque o Corinthians ganhou e o Palmeiras perdeu e não aceitou perder. A configuração familiar do cliente, segundo a mãe, se caracterizava por perdas em muitas gerações. Perdas materiais e perdas de filhos homens; muitos meninos morriam em tenra juventude por brigas e acidentes, entre outros tipos de morte.

Em constelações como essa, podemos observar o amor secreto da criança, a partir do que se manifesta trazendo sempre muita aflição, como afirma Hellinger em muitos de seus textos. Muitas vezes é algo necessário ao sistema e que é recusado por muitos. “A criança assume isso em lugar dos outros. Ela olha com amor para os excluídos. Por trás de todo esse comportamento atua um amor secreto.” (Revista Eletrônica) O constelador precisa “olhar para onde a criança olha.”

A doença dos pais

Como tenho trabalhado com vários grupos de crianças e adolescentes, ao longo dos últimos 5 anos, pude observar o comportamento de alguns pais, obtendo, inclusive, o relato oral de alguns, e de outros, por escrito, com relação a mudanças em seus sistemas familiares, em seus filhos e neles próprios. Uma situação que considero curiosa é a que envolve o adoecimento dos pais (da mãe, do pai ou de ambos) logo após a constelação do filho.

A partir do momento que iniciei os grupos infantis de 8 semanas, passei a ter mais contato com os pais, além de alguns clientes de consultório que levaram seus filhos para a constelação, que me traziam seus relatos nas sessões individuais, semanalmente. Notei, então, que após a constelação, um dos pais adoecia. Eram doenças que vinham “do nada”, como uma forte gripe, uma febre sem explicação. E outras, como coceiras com lesões na pele, infecção com fortes dores de ouvido, “uma depressão tão forte que ele ficou jogado na cama por uma semana”, como informou uma mãe; diarreia.

Observei que estava diante de uma regularidade e passei a prestar mais atenção, registrando os casos que me eram informados.

No caso que relato a seguir, a criança, de 7 anos, constelou há 3 anos atrás. O tema constelado foi uma dor com encurtamento de uma perna. A criança sentia dor, mas nenhum médico descobria a origem.

Os pais são separados e a criança não conhecia a família do pai, até a ocasião. Na constelação, observou-se a preponderância da família materna sobre a criança e o quanto esta a mantinha sob sua zona de influência. Observou-se ainda, o distanciamento do pai e, especialmente, o quanto aquela criança carregava as dores da avó materna. Na época, a avó apresentava-se saudável, mas com grandes conflitos com o marido (avô) alcoólatra.

Pouco tempo após a constelação, foram diagnosticadas depressão e diabetes da avó e posteriores problemas de útero, que levaram à suspeita de câncer e a uma intervenção cirúrgica.

A criança passou a ter maior contato com o pai e conheceu os avós paternos. Foi descoberto o motivo do encurtamento (havia uma quebradura de osso que os exames não detectaram antes – nem raio x) e a criança ficou bem com os novos tratamentos. Curou-se.

Em outro caso, a criança tinha um grave problema de ouvido, desde o nascimento. Ela constelou a primeira vez há dois anos, aproximadamente, ocasião em que o pai adoeceu, logo após a constelação. Este ano, ao constelar novamente, dois dias após a constelação, a mãe adoeceu com grave dor de ouvido, ficando de cama, junto com a criança que também foi acometida pelas dores e infecção do ouvido na mesma data, tendo sido ambos, submetidos a tratamento com antibióticos. A constelação mostrou que a criança estava emaranhada com a mãe e que esta olhava apenas para o chão e para os pais dela. A criança, em uma tentativa vã de salvar a mãe, adoece, dizendo a ela: antes eu do que você, querida mamãe. Neste sentido, a criança comete um crime sistêmico, tentando ajudar, dar aquilo que não tem. E, pelo amor cego, para, como diz Hellinger,

“essa outra consciência, a consciência secreta, vale ainda outra lei, que também traz problemas para as crianças. Essa lei exige que os mais antigos na família tenham precedência sobre aqueles que vieram depois. Existe, portanto, uma hierarquia entre os membros mais antigos e os mais novos da família. Essa hierarquia precisa ser respeitada.”

Mas, se arrogando o direito de assumir algo pelos pais, paga caro esta criança, vivendo dinâmicas que trazem sofrimentos, como “Eu fico doente por você”, “Vou morrer em seu lugar”.

“Mas apenas quando não olhamos para as crianças, mas sim, com elas, para onde elas são atraídas e para o que elas querem fazer em lugar dos adultos. Então as crianças ficam aliviadas. Quem precisa mudar são os pais e os outros envolvidos. Eles precisam encarar aquilo que não encararam. Com isso começa uma evolução, um processo de crescimento, primeiramente nos pais. Só então as crianças ficam livres” (Bert Hellinger).

O que dizem algumas mães

Seguem alguns depoimentos de mães, após a constelação de crianças:

Mãe de criança de 7 anos que participou de 2 grupos de constelações para crianças e adolescentes em 2009 e final de 2011:

A questão da doença de meu filho melhorou de 80 a 90%. Eu fiquei mais tranquila, não tenho mais tanto medo de perder meu filho e consigo deixá-lo mais livre. Hoje o vejo muito mais feliz e saudável.”

“Meu filho ficou tranquilo, acabou toda agitação e ansiedade em que se encontrava, começou a aceitar as regras, limites. Hoje sinto que meu filho é muito mais feliz e agora ele consegue também se expressar, se colocar sem agressividade. Ele é carinhoso e calmo. Quanto a mim, hoje consigo “ver” meu filho, enxergá-lo como ele é, e respeitá-lo.”

Esta mãe refere que ocorreram mudanças relacionadas às questões trabalhadas na constelação, a sentimentos, a pensamentos e a comportamentos e atitudes da criança.

Também refere mudanças relacionadas a comportamentos e atitudes de outras pessoas relacionadas à criança, como na escola e em sua família de origem. Refere-se, ainda, a mudanças ocorridas com os pais, especialmente ao modo como hoje olham para a criança, à sua tranquilidade com relação a ela.

Outra mãe:

B., 7 anos, constelou há mais ou menos 1 ano.

A mãe refere que o que a levou a procurar a abordagem Constelação Sistêmica foram alguns comportamentos da criança que não a permitiam sair sozinha para eventos, esportes e trabalho. A criança chorava muito quando estava longe da mãe, tinha dificuldades em ficar sozinha com o pai. Não dormia na casa dos avós, tios e muito menos amigos.

A mãe diz que percebia na criança grandes sofrimentos (ele tinha vontade de dormir, mas não conseguia), mesmo em casa para dormir era somente com ela.

B. constelou o medo de ficar sozinho, dormir sozinho, ficar longe de mãe e pai. E diz que a criança mudou muito após a constelação. Que no início, logo depois da constelação ficou muito insegura quando ele se sentiu livre.

Hoje brinco: Ele está tão seguro de si e confiante, que tenho vontade de “desconstelar” o B.

Depois acrescenta:

“Atualmente estou muito feliz e quero que ele continue assim: sem sofrimentos por causa do medo. Já na primeira semana (4 dias após a constelação) ele foi viajar com a madrinha e seus primos para um sítio e ele estava muito feliz. Hoje ele dorme nos amiguinhos, nos avós e sozinho.”

Uma sessão de grupo infantil

Relato uma sessão e uma constelação em um grupo infantil, do qual participaram 8 clientes:

1.      Fe. – sexo feminino, 16 anos

2.      Fl. – sexo masculino, 17 anos

3.      M., sexo feminino, 19 anos

4.      M.V., sexo feminino 6 anos

5.      M.C., sexo feminino, 11 anos

6.      F., sexo masculino, 7 anos

7.      J., sexo masculino, 10 anos

8.      JG, sexo masculino, 10 anos

As mães que participaram durante os dois meses de atendimento foram: R., C., Ca., Cl., V. e MC. Duas mães tinham dois filhos no grupo e uma adolescente não permitiu a presença dos pais. Dois pais frequentaram o grupo, porém de modo esporádico. No primeiro encontro, todos falaram seus nomes e disseram alguns dos motivos que os levaram lá, como por exemplo, agressividade, doenças, problemas de concentração na escola, ansiedade e medo excessivo em relação às provas escolares. Na vez de M.V., ela se encolheu, enrolou um pouquinho e acabou falando seu nome e sua idade. O pequeno de 7 anos falou que tem problemas com os amigos na escola, e com a agressividade. Os outros não falaram sobre isso. O filho de R., de 10 anos, J.G., disse que a mãe havia falado muito sobre constelação, então ele queria conhecer para também se beneficiar, e acreditava no que a mãe dissera. O de 16 disse que já havia assistido uma constelação e achara interessante. O de 10, filho de C., concordava com o que a mãe achava, e ela dissera que era bom, por isso ele estava ali. M. não disse nada, só seu nome e sua idade.

Pedi que fechassem os olhos para eliminarmos os estímulos externos, e que faríamos um exercício de imaginação. Como é um tanto difícil para a criança pequena permanecer de olhos fechados, sugeri também, que olhassem para o teto, fixando um ponto lá em cima. Pedi que se imaginassem diante de seus pais, que percebessem qual o lado que o pai estava em relação à mãe, se eles se sentiam grandes, pequenos ou do mesmo tamanho quando olhavam para eles. Depois, que imaginassem os pais do pai atrás dele e os pais da mãe atrás dela. Que sentissem como era olhar para eles, como eles os olhavam, e que pensassem em seu problema, enquanto olhavam para os pais e avós; e que, finalmente, abrissem os olhos. Fiz nova rodada, para saber das informações sobre a constelação imaginária. A maioria disse que viu a mãe do lado direito do pai e que se sentia pequeno em relação a eles. Três crianças disseram que viam o pai começando a constelação. No final, perguntei quem gostaria de constelar. F. levantou muito modestamente o dedo, e M.V. levantou de verdade. Perguntei novamente quem gostaria, e ela disse que ela gostaria. À pergunta “qual é a sua questão, o seu maior sofrimento, o seu problema”, ela respondeu que brigava muito com os pais, principalmente com a mãe. Pedi que colocasse suas duas mãos estendidas, com os olhos fechados, e que percebesse qual a mão mais pesada. Ela o fez e, após um tempinho, a mão que mais pesou foi a esquerda. Ela abriu os olhos e concordou quando eu disse que parecia que a mão da mamãe pesava mais.

Expliquei a lei da hierarquia para todos, mostrando, no sentido horário, que a família começa com o pai e contanto em números, um, dois, primeiro e segundo, para que eles pudessem acompanhar a explicação.

Pedi que M.V. escolhesse pessoas para representar seu pai, sua mãe e ela. Ela escolheu M. para representar sua mãe, J.G. para seu pai e a uma mãe, C., para representá-la. Posicionou da seguinte forma: a mãe, o pai e ela antes da mãe. Perguntei por quem começava sua constelação familiar, ela tentou negar, dizendo o tempo todo que era pela mãe, mas pedi – após algumas tentativas de mostrar que não era pela mãe - que ela contasse, e visse quem realmente era o primeiro ali. Ela, meio contrariada, acabou concordando que a constelação começava com ela.

A mãe olhava para o chão. O pai ficou profundamente emocionado, chorou bastante e disse ficar triste por ser o último, e porque elas duas não olhavam para ele. A mãe também chorou, disse estar muito triste.

Pedi que os pais se olhassem. Eles olharam-se com um distanciamento, sem respeito e com tristeza. Logo desviaram os olhos um do outro e olharam para o vazio. A menina também se mostrava triste, e ficou de olhos fechados durante muito tempo. Pedi que F. entrasse onde quisesse, ele entrou atrás da menina, e permaneceu lá até o final da constelação, mesmo quando em alguns momentos mudava a configuração, ele dava um jeitinho de ir atrás dela.

Coloquei a família do pai, que foi direto atrás dele, e depois a família da mãe, que se colocou mais ou menos do mesmo modo, atrás dela. Eram crianças que nunca haviam visto constelação, nunca antes haviam participado. O procedimento foi o mesmo que utilizo com os adultos, sem dizer onde eles – como representantes - deveriam ir, mas sentir o campo e seguir seu coração. É surpreendente como os representantes, sendo pequenos ou grandes em idade, tendo ou não uma experiência anterior com o trabalho, posicionam-se onde realmente é necessário para cada constelação. E interessante, também, de ver que em muitas famílias, a representação da hierarquia com equilíbrio é a mesma: primeiro os avós, depois os pais, depois os filhos.

Tanto os representantes da família da mãe quanto da do pai disseram sentir tristeza. E o da família do pai, ao olhar para a representante de M.V., chorava e dizia que era muito pesado... o representante do pai também, além de dizer que doía o coração (apontando o peito), e algumas vezes que doía a barriga. Pedi que F. deitasse, como o excluído da família do pai, sem dizer que era uma criança abortada. Ele disse sentir tristeza neste local. O representante da família do pai olhou e chorou um pouco mais; mas não fez nenhum movimento diferente.

Pedi que se aproximasse, ele não o fez. Não insisti. O pai ficou mais triste ainda; e quando pedi que F. deitasse bem nos pés do pai, este disse ter passado a tristeza.

Pedi ao pai que olhasse para sua família de origem. Este não olhava com respeito. Ao final de um tempo, percebendo que o pai não abaixaria para sua família, sugeri que o representante repetisse, de pé: pago o preço, olhando para a família. Ele disse que estava ótimo assim. Ali, em minha percepção, não havia outra solução.

Na família da mãe deu-se mais ou menos o mesmo: coloquei o pequeno de sete anos deitado, como o excluído da família da mãe, sem dizer que era uma criança abortada. Ele disse que estava igual ao outro jeito, no pé do outro, aliás, disse que estava um pouco melhor lá com o outro. Mas não foi nada de especial, ainda que ele tenha se colocado em postura de “deitado na praia”, olhando com maior interesse e mais descontraído ao que ocorria ali. Quando sugeri que deitasse no pé da família da mãe, ele não quis ficar lá. Falou que não era bom e se afastou.

O representante da família da mãe olhou e não demonstrou nenhum sentimento. Não fez também nenhum movimento diferente. Pedi à mãe que se aproximasse, mas para ela também aquilo nada representava. O representante da criança abortada ficou ali até o final da constelação, e disse – no final, que estava bom ali.

A mãe, em alguns momentos da constelação, disse que se preocupava com a filha, olhava para ela que seguia o movimento de ir para trás das duas famílias, disse que não queria que ela sofresse tanto. Mas, ao mesmo tempo, não conseguia sair dali, de perto da sua própria família e do marido.

Coloquei a mãe para olhar para a pessoa lá de trás de sua família, representada por F. Este disse que só tinha interesse pela representante da cliente – M.V., e que quando olhava para a mãe, tinha vontade de rir, de debochar; mas que também não sentia nada de especial pela M.V.; só queria ficar ali atrás. A mãe também não queria olhar, não demonstrava respeito por aquela pessoa, nem por sua família. Pedi também que repetisse que pagava o preço. Ela repetiu e disse se sentir melhor.

Pedi que os pais se olhassem. Eles se olharam com carinho, emocionados. A mãe disse gostar muito dele; e o pai disse também gostar dela. Ambos disseram que era muito diferente se olhar agora, de como fora no início da constelação. Agora ela até gostava de olhar para ele. Antes ela não conseguia de verdade, segundo a representante. Sugeri que a representante da cliente voltasse para o início da constelação, pois ela estava bem lá atrás.

Ela olhou para a mãe e disse sentir raiva da mãe. Que nem dava para olhar para a representante da mãe. A mãe, por sua vez, disse que gostava de olhar para ela, que não sabia por que ela a olhava com tanta raiva. A mãe dizia que sentia muita tristeza e dor de cabeça.

Também sentia a região do estomago.

Solicitei que as duas se olhassem e que repetissem “eu sou a mãe, a grande”. E para a outra:“eu sou a filha, a pequena. Aqui eu sou a última, só a pequena.”Ambas repetiram sem dificuldades e olharam-se com carinho durante um tempo.

Pedi que a mãe fosse ao lado do pai, ela espontaneamente foi para o lado esquerdo do marido e ambos olharam para a filha, que se colocava sentada no chão, pequena. A filha olhou para os pais com carinho e os abraçou. Repetiu SIM para ambos e para a família de ambos, inicialmente com alguma dificuldade, posteriormente sem dificuldades. Também pedi que repetisse para cada um dos pais: “você me deu a vida, isso é tudo. Além da vida, me dá muito mais, OBRIGADA.” Ela também o fez sem dificuldades.

Coloquei a representante ajoelhada, com uma almofada nas mãos, e a representada também. M.V. foi sem dificuldades. E pedi que devolvessem aos pais os “pesos” que estava carregando por eles. Elas o fizeram sem dificuldades. E os pais imediatamente abaixaram para pegar esses pesos.

Coloquei M.V. para olhar para sua representante e a tirei do papel, deixando só a representada.

Coloquei uma mãe, C., para representar a vida da menina, sem dizer quem era. Pedi que a cliente se escorasse em seus pais, eles a pegaram no colo. Ela adorou a brincadeira. Depois que eles a colocaram no chão, pedi que olhasse para a outra representante (C.). Ela olhou, e disse que era bonita, grande, legal. A vida também se sentia muito bem olhando para a menina. Elas se olharam e se abraçaram. Perguntei ao representante lá de trás da família da mãe como era olhar para esta cena, ele disse que indiferente. A família do pai disse que era bom ver a menina assim. E a da mãe disse ser indiferente. Todos os representantes estavam se sentindo bem.

Terminei assim a constelação.

A representante da mãe chorou muito a constelação inteira. Após a constelação, quando perguntei se alguém queria comentar, compartilhar ou tirar dúvidas, então a representante da mãe, M., disse continuar com muita dor de cabeça. Coloquei a cliente na frente e sua mãe, M.C. atrás dela e pedi que M. se curvasse diante delas devolvendo aquilo que estava ainda carregando por elas.

Expliquei sobre as caronas nas constelações, que muitas vezes constelamos na constelação do outro, aquilo que também acontece em nossa família, mas que naquele momento era necessário devolver para elas os papéis. Ela o fez e disse que a dor de cabeça havia passado.

Concluindo:

Como já dito, por conta do grupo continuar, é possível acompanhar possíveis mudanças no comportamento das crianças que constelam, especialmente das primeiras, assim como na atitude e comportamento dos pais. Quanto à constelação de M.V., nas sessões seguintes, a mãe relatou algumas mudanças: a criança passou a dormir melhor, pois a mesma tinha muita dificuldade para dormir; os medos ficaram mais controlados, e, especialmente, estava “uma seda, as brigas deram uma trégua”. A paz podia reinar entre elas.

Stephan Hausner diz que “o terapeuta é um catalisador da mudança curativa do paciente. Não é ele que cura, mas ele cria condições para que alguém se cure. A constelação converge principalmente para o paciente e para sua atitude, bem como para as possibilidades de mudança. O trabalho da constelação com cliente também se caracteriza pela tomada de contato de cada um com suas próprias forças e possibilidades, assumindo responsabilidade por si mesmo, crescer na autonomia de um adulto”. No caso da criança, não considero desta forma, pois o amor cego ainda predomina. Na verdade, ela está na fase do amor cego, infantil, do pensamento mágico, que acredita que pode salvar os pais, que pode resolver os problemas da família.

No entanto, como as mães estão presentes nas constelações das crianças, elas também recebem a constelação como delas próprias, “tomando contato com suas próprias forças e possibilidades, assumindo responsabilidades por si mesmas, sendo possível crescer na

autonomia de um adulto”. Quanto às crianças, parece que, além do próprio movimento do campo, são autorizadas pelos pais a, com a má consciência, “quebrarem” a lealdade e fidelidade sistêmicas, a crescerem com mais liberdade.

TIPOS DE FAMÍLIA:

MATRIMONIAL – é aquela onde há um casamento de papel passado, legal.

UNIÃO ESTÁVEL – casais que vivem juntos, sem assinar o papel, provavelmente não pretendem “se casar”.

CONCUBINÁRIA – casais que, provavelmente, pretendem “se casar”.

MONOPARENTAL – pai ou mãe criam o filho sozinho.

INTERSEXUAL – composta por transexuais.

HOMOAFETIVA – composta por casais do mesmo sexo.

UNILINEAR – mulheres que tiveram filhos por inseminação artificial, sem saber, muitas vezes, quem é o pai.

MOSAICO ou MISTA – composta por casais separados, que vivem juntos com filhos de relacionamentos anteriores. (Excerto de texto de Ana Lucia Braga, publicado na Revista UNISAUDE, de Ribeirão Preto – SP, em dezembro de 2011).

 

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Endereço

Rua Abraão Caixe, 566 Subsetor Sul 3,
Ribeirão Preto/SP, CEP 14020-630

Ana Lucia Braga

Consteladora Sistêmica

Coordenadora Espaço Terapêutico Isis
analuciabragaconstelacao.com.br/blog/
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