FRACASSO NO CASAMENTO: O SOFRIMENTO SISTÊMICO

Escrito por Ana Lucia Braga

Qui, 29 de Abril de 2010 15:16h.

 

Todo relacionamento de casal é um relacionamento entre sistemas. O reconhecimento da necessidade um do outro e de que o homem e mulher são diferentes, porém equivalentes está na base de todo relacionamento; este tem sucesso quando há equilíbrio entre dar e receber; Ordem e Amor se completam: a Ordem vem primeiro e o amor está a serviço de uma ordem maior. Ou seja, na família, marido e mulher também têm seus lugares.

No livro Histórias de Amor, Bert Hellinger diz que “o amor deve integrar-se a uma ordem. A ordem é predeterminada para o amor. A primeira ordem no relacionamento entre um casal é que homem e mulher – mesmo que diferentes – são equivalentes. Se isto for reconhecido por eles, o seu amor tem uma chance maior.” O marido dá início à família. Neste sentido, a ordem da família atual começa com ele, pois a ordem original tem a ver com os membros mais antigos, com sua família de origem.

Nas famílias mistas, os relacionamentos passam também por esta ordem. “Os filhos do homem e os da mulher estiveram presentes neste sistema antes do parceiro novo. Dessa forma, eles têm preferência em relação ao atual parceiro. Como parceiros, naturalmente, os pais são únicos.”

“No coração, porém as crianças do primeiro relacionamento têm preferência para o homem em relação à segunda mulher. O mesmo vale para a mulher em relação aos seus filhos do primeiro casamento”, diz Hellinger. Nas Constelações Sistêmicas, muitas vezes quando se configura o casal, os representantes apontam uma indisponibilidade mútua, inconsciente e perceptível apenas nos atos. Às vezes até desejam estar juntos, mas algo os impossibilita. Em geral, as dificuldades entre um casal estão ligadas à possibilidade de haver questões anteriores não solucionadas.

Questões que nos remetem aos pais, à família de origem. E algumas vezes aos relacionamentos anteriores do próprio casal.

Muito do sofrimento nos relacionamentos tem a ver com as questões sistêmicas. Apensar do amor, a ordem vem em primeiro lugar e isto significa que inconscientemente – ou com a consciência sistêmica, coletiva – a ligação com a família de origem que é anterior ao relacionamento, funciona como um cordão embolado, que muitas vezes aperta, impedindo que se esteja realmente disponível para viver o amor. Em muitas situações, olha-se para o companheiro ou a companheira e não se enxerga com quem se vive. As situações anteriores enviesam o olhar, impedindo que o amor flua. O depoimento de uma cliente, “O relacionamento acabado”, título dado por ela, é permeado por expectativas (infantis) em relação ao outro. Inicialmente fica difícil admitir que ela também está indisponível: “Eu passei a ver que de fato meu relacionamento nunca iria dar certo, não por minha disponibilidade, mas pela dele. E de fato não deu. Dias depois da constelação eu tomei coragem e desisti. Ainda sofro por conta disso, mas tenho a incrível convicção de que fiz a coisa certa, fato do qual me orgulho, e acho que somente consegui por estar passando por transformações decorrentes da constelação, do contrário, eu esperaria novamente que ele terminasse comigo de novo, por falta de coragem de admitir que não dava mais para ficarmos juntos”.

Para que um casal possa permanecer junto é necessária a separação da família de origem e a libertação dos emaranhamentos nos destinos desta família. As ordens na família envolvem o direito à pertinência, ou seja, todos têm o direito de pertencer. Há uma hierarquia que deve ser respeitada, e deve haver equilíbrio entre o dar e o tomar em todas as relações dentro do sistema familiar. O amor da criança pelos pais e dos pais pela criança também faz parte da base de todo relacionamento.

Quando um dos parceiros não toma seus pais, também não pode tomar o outro no casamento. Ou seja, para que uma relação dê certo, é necessário observar questões como: o relacionamento do casal tem precedência com relação à paternidade ou maternidade; a hierarquia é fundamental nas famílias mistas - quando há mais de um casamento.

Em um casamento com filhos, os parceiros anteriores sempre precisam ser respeitados, não importando os motivos da separação. Quando isso não acontece, é possível que parceiros anteriores sejam representados no casamento pelos filhos.

O relacionamento entre um homem e uma mulher está inserido num contexto maior. Pela sua natureza está direcionado aos filhos, à formação de uma família, à continuação da vida.

Só se toma realmente o parceiro quando se toma os pais. Hellinger afirma que “uma mulher que se acha melhor que sua mãe não tem respeito pelos homens, não os entende e, em principio, não precisa deles. Porque se ela achar que é melhor que a sua mãe, isso geralmente significa: eu sou uma mulher melhor para o meu pai. Então ela já tem o seu homem e não precisa de nenhum outro.” Isto vale também para o homem.

O desrespeito, a incompreensão, inúmeros conflitos entre os casais passam por este tipo de dificuldade. A solução é a mulher olhar para sua própria mãe com respeito e, independentemente da relação existente entre seus pais, entender que o papai é o homem da mamãe, e vice versa.

Permanecer ao lado da mãe como pequena possibilita que esta mulher possa tomar seu marido, respeitando-o como homem. O mesmo acontece com o homem. O respeito com relação ao parceiro passa pelos pais.

Segue o depoimento de um cliente:

“Achava meu pai um fraco, que minha mãe sofria muito com ele. Eu vivia brigando com ele, e sempre tomei partido da minha mãe. Tenho 45 anos e posso afirmar que todos os meus relacionamentos foram um fracasso. Agora eu entendo: como podia ter uma mulher, se minha mãe me ocupava tanto? E eu realmente cuidava dela, ficando com ela, atendendo suas ligações o tempo todo, mesmo de madrugada, quando estava com uma outra mulher. Depois da constelação isso mudou. Eu entendi que quero outra mulher mesmo. Que ela é mulher do meu pai. E eu não tenho nada que preencher a vida dela. Eu quero a minha vida. Já estou até de casamento marcado”.

 

ABRIL DE 2010

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Ana Lucia Braga

Consteladora Sistêmica

Coordenadora Espaço Terapêutico Isis
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